"-Onde é que você aprendeu a dançar o tango? (...)
- Hãnn, por aí. (...)
- Sim, mas... com quem? (...)
- Hãnnn, aprendi a dançar a sério - e tudo quanto há para dançar - com os meus amigos moçambicanos, cabo-verdianos, angolanos, guineenses e brasileiros. Também sei sambar. E rumbas e salsas é comigo. (...)
- Não seja irritante. Diga lá, onde aprendeu a dançar o tango e com quem?
- Com os homens das obras.
(...)
- Ah, faneca - suspirou agarrado a Pikuxa e a pensar em Vera.
(...)
Enfim, como dizia o outro, tudo isto é... tango!"
domingo, 1 de agosto de 2010
"O último dos padrinhos". Mario Puzo (Bertrand, 2009)
"- Porque os escritores não são os livros que escrevem - respondeu Cláudia. - Os livros são destilações do melhor que há neles. Um escritor é como a tonelada de rochas que é preciso esmagar para obter um pequeno diamante, se é isso que se faz para conseguir um diamante."
"Rosebud - fragmentos de biografias". Pierre Assouline (Bertrand, 2009)
"Um quadro, como um poema, nunca está terminado. Ele está precisamente abandonado. A obra suspensa apela à sua continuação. Não tem fim. A loucura é a obra nesta lógica, a de um artista com o espírito corroído pela dúvida."
"Amor Líquido". Zygmunt Bauman (Relógio d´Água, 2006)
“Se lhes perguntassem, os habitantes da Leónia, uma das Cidades Invisíveis de Ítalo Calvino, diriam que a sua paixão é “desfrutar de coisas novas e diferentes”. De facto. A cada manhã, “vestem roupas novas em folha, tiram latas fechadas do mais recente modelo de frigorífico, ouvindo jingles recém-lançados na estação de rádio mais quente do momento”. Mas a cada manhã “as sobras de Leónia de ontem aguardam pelo camião do lixo” e cabe indagar se a verdadeira paixão dos leonianos não seria na verdade “o prazer de expelir, descartar, limpar-se de uma impureza recorrente”. Caso contrário, por que seriam os varredores de rua “recebidos como anjos”, mesmo que a sua missão fosse “cercada de um silêncio respeitoso” (o que é compreensível: “ninguém quer voltar a pensar em coisas que já foram rejeitadas”)?
Pensemos…
Será que os habitantes do nosso líquido mundo moderno não são exactamente como os de Leónia, preocupados com uma coisa e falando de outra? Garantem que o seu desejo, paixão, objectivo ou sonho é “relacionar-se”. Mas será que, na verdade, não estão principalmente preocupados em evitar que as suas relações acabem congeladas e coaguladas?”
“Como apontou Ralph Waldo Emerson, quando se esquia sobre gelo fino, a salvação está na velocidade. Quando se é traído pela qualidade, tende-se a procurar a desforra na quantidade. Se “os compromissos são irrelevantes” quando as relações deixam de ser honestas e parece improvável que se sustentem, as pessoas tendem a substituir as parcerias pelas redes. Feito isso, porém, assentar torna-se ainda mais difícil (e adiável) do que antes: agora já não se tem a habilidade que faz, ou poderia fazer, a coisa funcionar. Estar em movimento, antes um privilégio e uma conquista, torna-se uma necessidade.”
Pensemos…
Será que os habitantes do nosso líquido mundo moderno não são exactamente como os de Leónia, preocupados com uma coisa e falando de outra? Garantem que o seu desejo, paixão, objectivo ou sonho é “relacionar-se”. Mas será que, na verdade, não estão principalmente preocupados em evitar que as suas relações acabem congeladas e coaguladas?”
“Como apontou Ralph Waldo Emerson, quando se esquia sobre gelo fino, a salvação está na velocidade. Quando se é traído pela qualidade, tende-se a procurar a desforra na quantidade. Se “os compromissos são irrelevantes” quando as relações deixam de ser honestas e parece improvável que se sustentem, as pessoas tendem a substituir as parcerias pelas redes. Feito isso, porém, assentar torna-se ainda mais difícil (e adiável) do que antes: agora já não se tem a habilidade que faz, ou poderia fazer, a coisa funcionar. Estar em movimento, antes um privilégio e uma conquista, torna-se uma necessidade.”
"A volta ao mundo em oitenta dias". Jules Verne (11x17, 2010)
No primeiro capítulo - “Em que Phileas Fogg e Passepartout mutuamente se aceitam, o primeiro na qualidade de amo, o segundo na de criado” – ficamos a perceber que estes dois saberão como resolver o tédio de uma longa viagem de balão.
No segundo capítulo – “Em que Passepartout se convence, finalmente, de que achou o seu ideal” – entendemos a importância de se chamar Passepartout.
No terceiro capítulo – “Trava-se uma conversa que poderá custar a cara a Phileas Fogg” – daremos conta da flexibilidade exigida às personagens, determinante no capítulo seguinte – “Em que Phileas Fogg faz pasmar o seu criado Passepartout”.
A aventura prolonga-se até ao último round, “Em que se prova que Phileas Fogg nada ganhou na sua viagem à roda do mundo, a não ser a felicidade”.
No segundo capítulo – “Em que Passepartout se convence, finalmente, de que achou o seu ideal” – entendemos a importância de se chamar Passepartout.
No terceiro capítulo – “Trava-se uma conversa que poderá custar a cara a Phileas Fogg” – daremos conta da flexibilidade exigida às personagens, determinante no capítulo seguinte – “Em que Phileas Fogg faz pasmar o seu criado Passepartout”.
A aventura prolonga-se até ao último round, “Em que se prova que Phileas Fogg nada ganhou na sua viagem à roda do mundo, a não ser a felicidade”.
"A interpretação do crime". Jed Rubenfeld (11x17, 2009)
“A felicidade não tem segredos.
Os homens infelizes parecem-se todos. Algum desgosto há muito sofrido, um desejo negado, um golpe no orgulho, uma reluzente centelha de amor extinta pelo desprezo – ou pior, pela indiferença -, agarram-se a eles, ou o inverso, e, com isso, esses homens vivem envoltos no manto dos dias passados. O homem feliz não olha para trás. Não olha para a frente. Vive no presente.
É aqui, porém, que reside a dificuldade. Há algo que o presente nunca pode dar: sentido. Os caminhos da felicidade e do sentido não são iguais. Para chegar à felicidade, um homem precisa apenas de viver no momento – precisa apenas de viver para o momento. Já se quiser sentido – o sentido dos seus sonhos, dos seus segredos, da sua vida -, um homem precisa de reabitar o seu passado, por muito sombrio que este seja, e viver para o futuro, por muito incerto. É assim que, à nossa frente, a natureza exibe felicidade e sentido, insistindo unicamente para que escolhamos entre eles.
Para mim, sempre escolhi sentido.”
Os homens infelizes parecem-se todos. Algum desgosto há muito sofrido, um desejo negado, um golpe no orgulho, uma reluzente centelha de amor extinta pelo desprezo – ou pior, pela indiferença -, agarram-se a eles, ou o inverso, e, com isso, esses homens vivem envoltos no manto dos dias passados. O homem feliz não olha para trás. Não olha para a frente. Vive no presente.
É aqui, porém, que reside a dificuldade. Há algo que o presente nunca pode dar: sentido. Os caminhos da felicidade e do sentido não são iguais. Para chegar à felicidade, um homem precisa apenas de viver no momento – precisa apenas de viver para o momento. Já se quiser sentido – o sentido dos seus sonhos, dos seus segredos, da sua vida -, um homem precisa de reabitar o seu passado, por muito sombrio que este seja, e viver para o futuro, por muito incerto. É assim que, à nossa frente, a natureza exibe felicidade e sentido, insistindo unicamente para que escolhamos entre eles.
Para mim, sempre escolhi sentido.”
"Estado Civil - diário de uma crise". Pedro Mexia (Tinta-da-China, 2009)
"DEMOGRAFIA
Claro que há «muitas mulheres no mundo». Mas isso é um comentário estritamente sexual."
"Is OK
O ódio por nós mesmos é normal. Eu também tenho ódio por mim mesmo. É normal. O que é mau é não sabermos como sair dele, não sabermos como geri-lo. Se conseguirmos entender claramente o seu mecanismo, o ódio por nós mesmos é, na realidade, uma coisa boa, porque nos ajuda a compreender os outros. (Orhan Pamuk, (...))"
"O MEU MELHOR
Em quase todas as derrotas, não me empenhei o suficiente. E houve até derrotas que procurei, de tanta falta de empenho. Intempestivo e angustiadamente displicente, como se isso afinal de contas não fosse importante. Mas quando damos tudo, como no poema de Yeats («Never give all the heart»), e falhamos, quando damos o nosso melhor e o nosso melhor não chega, é impossível continuar tudo como dantes, não extrair conclusões, não tomar decisões, não ter algumas dúvidas que são certezas. Quando o nosso melhor não chega, nada disto vale a pena."
"AFTERIMAGE
É como aquela reacção óptica que em inglês se chama «afterimage» (persistência retiniana, em português). Quando olhamos fixamente alguma coisa (digamos, uma lâmpada acesa) e depois fechamos os olhos, surge uma imagem ou um brilho no interior dos olhos fechados durante uns segundos. É o brilho da imagem que já perdemos."
"ISOLACIONISMO
Sempre detestei o isolacionismo («prática oficial de um Estado ou Nação em fechar-se aos demais, quer económica, quer politicamente»). A minha vida durante treze anos merece muitos epítetos (muitos deles justamente ridículos), mas nunca o de «isolacionista». Bem pelo contrário. Mas pronto, já chega, depois de algumas guerras desastrosas é altura de não ir a guerra nenhuma, uma espécie de pacifismo instrumental, profundamente hipócrita mas seguro. Depois de uma guerra recente baseada em invenções e informações falsas, há que ter alguma vergonha na cara. Pouco importam os «desejos profundos»: o que interessa é a «prática oficial». Manda quem pode, obedece quem deve; mesmo que um e outro sejam a mesma pessoa."
Claro que há «muitas mulheres no mundo». Mas isso é um comentário estritamente sexual."
"Is OK
O ódio por nós mesmos é normal. Eu também tenho ódio por mim mesmo. É normal. O que é mau é não sabermos como sair dele, não sabermos como geri-lo. Se conseguirmos entender claramente o seu mecanismo, o ódio por nós mesmos é, na realidade, uma coisa boa, porque nos ajuda a compreender os outros. (Orhan Pamuk, (...))"
"O MEU MELHOR
Em quase todas as derrotas, não me empenhei o suficiente. E houve até derrotas que procurei, de tanta falta de empenho. Intempestivo e angustiadamente displicente, como se isso afinal de contas não fosse importante. Mas quando damos tudo, como no poema de Yeats («Never give all the heart»), e falhamos, quando damos o nosso melhor e o nosso melhor não chega, é impossível continuar tudo como dantes, não extrair conclusões, não tomar decisões, não ter algumas dúvidas que são certezas. Quando o nosso melhor não chega, nada disto vale a pena."
"AFTERIMAGE
É como aquela reacção óptica que em inglês se chama «afterimage» (persistência retiniana, em português). Quando olhamos fixamente alguma coisa (digamos, uma lâmpada acesa) e depois fechamos os olhos, surge uma imagem ou um brilho no interior dos olhos fechados durante uns segundos. É o brilho da imagem que já perdemos."
"ISOLACIONISMO
Sempre detestei o isolacionismo («prática oficial de um Estado ou Nação em fechar-se aos demais, quer económica, quer politicamente»). A minha vida durante treze anos merece muitos epítetos (muitos deles justamente ridículos), mas nunca o de «isolacionista». Bem pelo contrário. Mas pronto, já chega, depois de algumas guerras desastrosas é altura de não ir a guerra nenhuma, uma espécie de pacifismo instrumental, profundamente hipócrita mas seguro. Depois de uma guerra recente baseada em invenções e informações falsas, há que ter alguma vergonha na cara. Pouco importam os «desejos profundos»: o que interessa é a «prática oficial». Manda quem pode, obedece quem deve; mesmo que um e outro sejam a mesma pessoa."
"A arte da guerra para mulheres". Chin-Ning Chu (Chá das Cinco, 2010)
“Rejuvenesça. Há quatro estações por uma razão. No inverno, a Terra descansa para se preparar para o renascimento da primavera. As árvores perdem as folhas, os ursos hibernam. Felizmente os ursos não são encorajados a participarem em cursos de formação motivacional. De outra forma, com a sua recentemente descoberta “sabedoria”, mesmo antes de o sono profundo começar a fazer efeito, diriam para si mesmos: “Levanta-te, levante-se, seu malandro preguiçoso.” Dividido em obedecer aos ritmos naturais comportar-se “como é esperado”, quando a primavera finalmente chegasse, os pobres ursos estariam exaustos e incapazes de sobreviver.”
“Numa tentativa para nos mantermos umas às outras em baixo, parece que as mulheres são vítimas do que chamo a “mentalidade do caranguejo”.
Quando se cozinha caranguejos, não temos de colocar a tampa na panela a ferver porque os caranguejos impedem-se uns aos outros de sair. Quando um caranguejo se aproxima do topo e tenta sair, outro caranguejo irá naturalmente puxá-lo para baixo na sua própria tentativa de fugir. Por conseguinte, todos os caranguejos se aniquilam colectivamente.”
“Numa tentativa para nos mantermos umas às outras em baixo, parece que as mulheres são vítimas do que chamo a “mentalidade do caranguejo”.
Quando se cozinha caranguejos, não temos de colocar a tampa na panela a ferver porque os caranguejos impedem-se uns aos outros de sair. Quando um caranguejo se aproxima do topo e tenta sair, outro caranguejo irá naturalmente puxá-lo para baixo na sua própria tentativa de fugir. Por conseguinte, todos os caranguejos se aniquilam colectivamente.”
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