domingo, 1 de agosto de 2010

"Meu único, grande amor: casei-me!". Manuela Gonzaga (Bertrand, 2010)

"-Onde é que você aprendeu a dançar o tango? (...)
- Hãnn, por aí. (...)
- Sim, mas... com quem? (...)
- Hãnnn, aprendi a dançar a sério - e tudo quanto há para dançar - com os meus amigos moçambicanos, cabo-verdianos, angolanos, guineenses e brasileiros. Também sei sambar. E rumbas e salsas é comigo. (...)
- Não seja irritante. Diga lá, onde aprendeu a dançar o tango e com quem?
- Com os homens das obras.

(...)

- Ah, faneca - suspirou agarrado a Pikuxa e a pensar em Vera.

(...)

Enfim, como dizia o outro, tudo isto é... tango!"

"O último dos padrinhos". Mario Puzo (Bertrand, 2009)

"- Porque os escritores não são os livros que escrevem - respondeu Cláudia. - Os livros são destilações do melhor que há neles. Um escritor é como a tonelada de rochas que é preciso esmagar para obter um pequeno diamante, se é isso que se faz para conseguir um diamante."

"Rosebud - fragmentos de biografias". Pierre Assouline (Bertrand, 2009)

"Um quadro, como um poema, nunca está terminado. Ele está precisamente abandonado. A obra suspensa apela à sua continuação. Não tem fim. A loucura é a obra nesta lógica, a de um artista com o espírito corroído pela dúvida."

"Amor Líquido". Zygmunt Bauman (Relógio d´Água, 2006)

“Se lhes perguntassem, os habitantes da Leónia, uma das Cidades Invisíveis de Ítalo Calvino, diriam que a sua paixão é “desfrutar de coisas novas e diferentes”. De facto. A cada manhã, “vestem roupas novas em folha, tiram latas fechadas do mais recente modelo de frigorífico, ouvindo jingles recém-lançados na estação de rádio mais quente do momento”. Mas a cada manhã “as sobras de Leónia de ontem aguardam pelo camião do lixo” e cabe indagar se a verdadeira paixão dos leonianos não seria na verdade “o prazer de expelir, descartar, limpar-se de uma impureza recorrente”. Caso contrário, por que seriam os varredores de rua “recebidos como anjos”, mesmo que a sua missão fosse “cercada de um silêncio respeitoso” (o que é compreensível: “ninguém quer voltar a pensar em coisas que já foram rejeitadas”)?
Pensemos…
Será que os habitantes do nosso líquido mundo moderno não são exactamente como os de Leónia, preocupados com uma coisa e falando de outra? Garantem que o seu desejo, paixão, objectivo ou sonho é “relacionar-se”. Mas será que, na verdade, não estão principalmente preocupados em evitar que as suas relações acabem congeladas e coaguladas?”

“Como apontou Ralph Waldo Emerson, quando se esquia sobre gelo fino, a salvação está na velocidade. Quando se é traído pela qualidade, tende-se a procurar a desforra na quantidade. Se “os compromissos são irrelevantes” quando as relações deixam de ser honestas e parece improvável que se sustentem, as pessoas tendem a substituir as parcerias pelas redes. Feito isso, porém, assentar torna-se ainda mais difícil (e adiável) do que antes: agora já não se tem a habilidade que faz, ou poderia fazer, a coisa funcionar. Estar em movimento, antes um privilégio e uma conquista, torna-se uma necessidade.”

"A volta ao mundo em oitenta dias". Jules Verne (11x17, 2010)

No primeiro capítulo - “Em que Phileas Fogg e Passepartout mutuamente se aceitam, o primeiro na qualidade de amo, o segundo na de criado” – ficamos a perceber que estes dois saberão como resolver o tédio de uma longa viagem de balão.

No segundo capítulo – “Em que Passepartout se convence, finalmente, de que achou o seu ideal” – entendemos a importância de se chamar Passepartout.
No terceiro capítulo – “Trava-se uma conversa que poderá custar a cara a Phileas Fogg” – daremos conta da flexibilidade exigida às personagens, determinante no capítulo seguinte – “Em que Phileas Fogg faz pasmar o seu criado Passepartout”.
A aventura prolonga-se até ao último round, “Em que se prova que Phileas Fogg nada ganhou na sua viagem à roda do mundo, a não ser a felicidade”.

"A interpretação do crime". Jed Rubenfeld (11x17, 2009)

“A felicidade não tem segredos.

Os homens infelizes parecem-se todos. Algum desgosto há muito sofrido, um desejo negado, um golpe no orgulho, uma reluzente centelha de amor extinta pelo desprezo – ou pior, pela indiferença -, agarram-se a eles, ou o inverso, e, com isso, esses homens vivem envoltos no manto dos dias passados. O homem feliz não olha para trás. Não olha para a frente. Vive no presente.
É aqui, porém, que reside a dificuldade. Há algo que o presente nunca pode dar: sentido. Os caminhos da felicidade e do sentido não são iguais. Para chegar à felicidade, um homem precisa apenas de viver no momento – precisa apenas de viver para o momento. Já se quiser sentido – o sentido dos seus sonhos, dos seus segredos, da sua vida -, um homem precisa de reabitar o seu passado, por muito sombrio que este seja, e viver para o futuro, por muito incerto. É assim que, à nossa frente, a natureza exibe felicidade e sentido, insistindo unicamente para que escolhamos entre eles.
Para mim, sempre escolhi sentido.”

"Estado Civil - diário de uma crise". Pedro Mexia (Tinta-da-China, 2009)

"DEMOGRAFIA
Claro que há «muitas mulheres no mundo». Mas isso é um comentário estritamente sexual."

"Is OK
O ódio por nós mesmos é normal. Eu também tenho ódio por mim mesmo. É normal. O que é mau é não sabermos como sair dele, não sabermos como geri-lo. Se conseguirmos entender claramente o seu mecanismo, o ódio por nós mesmos é, na realidade, uma coisa boa, porque nos ajuda a compreender os outros. (Orhan Pamuk, (...))"

"O MEU MELHOR
Em quase todas as derrotas, não me empenhei o suficiente. E houve até derrotas que procurei, de tanta falta de empenho. Intempestivo e angustiadamente displicente, como se isso afinal de contas não fosse importante. Mas quando damos tudo, como no poema de Yeats («Never give all the heart»), e falhamos, quando damos o nosso melhor e o nosso melhor não chega, é impossível continuar tudo como dantes, não extrair conclusões, não tomar decisões, não ter algumas dúvidas que são certezas. Quando o nosso melhor não chega, nada disto vale a pena."

"AFTERIMAGE
É como aquela reacção óptica que em inglês se chama «afterimage» (persistência retiniana, em português). Quando olhamos fixamente alguma coisa (digamos, uma lâmpada acesa) e depois fechamos os olhos, surge uma imagem ou um brilho no interior dos olhos fechados durante uns segundos. É o brilho da imagem que já perdemos."

"ISOLACIONISMO
Sempre detestei o isolacionismo («prática oficial de um Estado ou Nação em fechar-se aos demais, quer económica, quer politicamente»). A minha vida durante treze anos merece muitos epítetos (muitos deles justamente ridículos), mas nunca o de «isolacionista». Bem pelo contrário. Mas pronto, já chega, depois de algumas guerras desastrosas é altura de não ir a guerra nenhuma, uma espécie de pacifismo instrumental, profundamente hipócrita mas seguro. Depois de uma guerra recente baseada em invenções e informações falsas, há que ter alguma vergonha na cara. Pouco importam os «desejos profundos»: o que interessa é a «prática oficial». Manda quem pode, obedece quem deve; mesmo que um e outro sejam a mesma pessoa."

"A arte da guerra para mulheres". Chin-Ning Chu (Chá das Cinco, 2010)

“Rejuvenesça. Há quatro estações por uma razão. No inverno, a Terra descansa para se preparar para o renascimento da primavera. As árvores perdem as folhas, os ursos hibernam. Felizmente os ursos não são encorajados a participarem em cursos de formação motivacional. De outra forma, com a sua recentemente descoberta “sabedoria”, mesmo antes de o sono profundo começar a fazer efeito, diriam para si mesmos: “Levanta-te, levante-se, seu malandro preguiçoso.” Dividido em obedecer aos ritmos naturais comportar-se “como é esperado”, quando a primavera finalmente chegasse, os pobres ursos estariam exaustos e incapazes de sobreviver.”

“Numa tentativa para nos mantermos umas às outras em baixo, parece que as mulheres são vítimas do que chamo a “mentalidade do caranguejo”.
Quando se cozinha caranguejos, não temos de colocar a tampa na panela a ferver porque os caranguejos impedem-se uns aos outros de sair. Quando um caranguejo se aproxima do topo e tenta sair, outro caranguejo irá naturalmente puxá-lo para baixo na sua própria tentativa de fugir. Por conseguinte, todos os caranguejos se aniquilam colectivamente.”