terça-feira, 5 de outubro de 2010

O livro abandonado

Eu, uma vez corri a outra nova aventura. Foi em Raimundo, uma das terras mais ricas do país. Vivia eu num apartamento, quando ouvi um barulho estranho. Parecia alguém a chorar. Fui ver. Que estranho, sabem o que eu ouvi? Um livro a chorar. Nunca tal me tinha acontecido ver isto, mas vou contar como foi: - O que vem a ser isto? - perguntava eu - um livro a chorar?!
- Sim! Um livro a chorar! - dizia e chorava o livro.
- E a falar? É de desmaiar! Agora vamos ao que interessa: porque é que choras?
- É que ninguém me quer ler, dizem sempre: este livro não presta! Este livro é muito grande para ler! Assim eu sou abandonado.
- Pois agora vou-te perguntar: os livros todos que eu li não falavam nem choravam e porque é que tu choras?
- É que eu venho do mundo dos livros e fabricaram-me mesmo de propósito para que alguém me lesse e se alguém me ler irá para o meu mundo!
- Mas porque é que quem te ler tem de ir para o teu mundo?
- No nosso mundo, os livros estão a acabar e precisamos de poetas para escreverem mais livros! Porque sem poetas não há livros e será uma grande tristeza se não houver livros!
- E porque é que será uma grande tristeza se não houver livros?
- Olha, olha, os livros, nós, ensinam tudo ao homem e se não houver livros os homens não saberão nada!
- Lá nisso tens razão, eu sou um poeta! Vou-te abrir se tu me prometeres que me levas de volta ao mundo do Homem!
- Prometo!
- Combinado, então vou abrir-te!
E eu abri o livro e fui ter ao Mundo dos livros.
Assim na vida nunca mais faltaram livros.


Maceirinha, 24 de Março de 1988 (9 anos de idade)