quinta-feira, 23 de julho de 2015

O homem sem qualidades - dicionário (em construção)

ALMA. Mas, entre tudo o que é mais próprio desta palavra «alma», o que mais ressalta é o facto de a gente nova a não conseguir pronunciar sem se rir. Mesmo Diotima e Arnheim evitavam usá-la sem ser em contexto; porque ter uma alma grande, nobre, cobarde, ousada, baixa, é coisa que ainda se pode afirmar; mas dizer simplesmente «a minha alma», isso ninguém faz. É uma palavra típica de pessoas mais velhas, e isso só se pode explicar se aceitarmos que no decurso de uma vida há qualquer coisa que se torna cada vez mais sensível, e para a qual precisamos urgentemente de um nome, mas não o encontramos; até que passamos a usar, com alguma relutância, aquele que antes desprezámos. (p. 257).

AMOR. Quando se ama, tudo é amor, mesmo a dor e a repulsa. (p. 221)


ASSOCIAÇÃO. (…) é muito mais difícil excluirmo-nos de uma coisa que todos os outros fazem do que negarmo-nos a iniciá-la. (p. 670).
ATITUDE. Dito com toda a simplicidade: podemos ter para com as coisas que nos acontecem ou que fazemos uma atitude mais geral ou mais pessoal. Podemos sentir uma pancada não apenas como dor, mas também como ofensa, e neste caso ela torna-se cada vez mais insuportável; mas também aceitá-la desportivamente, como um obstáculo que não nos intimidará nem nos arrastará para uma ira cega, e então não é raro nem sequer darmos por ela. Neste segundo caso, porém, o que aconteceu foi apenas que integrámos essa pancada num contexto mais geral, o do combate, e em função disso a natureza do golpe revelou-se dependente da tarefa que tem de desempenhar. E precisamente este fenómeno, que leva a que um acontecimento receba o seu significado, e mesmo o seu conteúdo, mediante a sua inserção numa cadeia de ações consequentes, produz-se em todos os indivíduos que não o encaram apenas como acontecimento pessoal, mas como desafio à sua capacidade intelectual. Também ele será mais superficialmente afetado nas suas emoções pelo que faz. (p. 213)


CAPITALISMO. O egoísmo é a qualidade mais confiável da vida humana. (…) Mas não será o dinheiro um método tão seguro de tratamento das relações humanas como a força, e não nos permite ele dispensar o uso ingénuo dela? É uma violência espiritualizada, uma forma especial de violência, flexível, requintada e criativa. Os negócios não se baseiam na astúcia e na força, na obtenção de vantagens e na exploração? A diferença é que são atitudes civilizadas, transpostas para a interioridade, como que mascaradas com a aparência da sua liberdade. O capitalismo, enquanto organização do egoísmo segundo a hierarquia de forças que permite fazer dinheiro, é mesmo a maior e mais humana das ordens que conseguimos criar em Tua honra. Não há medida mais exacta do fazer humano! (p. 660).

CIDADÃOS. Todos os cidadãos eram iguais perante a lei, mas acontecia que nem todos eram cidadãos. (p.63)


CIDADE. As cidades, como os homens, reconhecem-se pelo passo. (p. 31)


«No campo, os deuses ainda descem até aos homens», pensou, «somos alguém e vivemos, mas na cidade, onde há mil vezes mais acontecimentos, já não sabemos como relacioná-los connosco: e assim começa a famigerada e progressiva caminhada da vida para a abstracção.» (p. 826).

CORRUPÇÃO. Há hoje no mundo um espírito de vida anónimo que corre no sangue de muita gente, uma expectativa do pior, uma predisposição para o tumulto, uma desconfiança em relação a tudo o que se venera. Há quem se queixe da falta de idealismo da juventude, mas que no momento de agir não se comporta de modo diferente daqueles que, desconfiando saudavelmente das ideias, reforçam o seu suave poder de persuasão recorrendo ao uso de matracas. Por outras palavras: existirá algum piedoso objectivo que não tenha de se apetrechar com uma pitada de corrupção e de contar com os mais baixos atributos humanos para poder ser tomado por sério e bem intencionado neste mundo? (p. 411). 
CRIMINOSO. Os séculos ensinaram-lhe que os vícios se podem transformar em virtudes e as virtudes em vícios, e conclui que, no essencial, só por inépcia se não consegue fazer de um criminoso um homem útil no seu tempo de vida. (p. 219)

DESEJO. - O que eu afirmei - continuou Ulrich - foi que ninguém, ainda que tivesse essa possibilidade, realizaria tudo aquilo que deseja. Lembra-se daquela nossa pasta cheia de propostas? Então pergunto-lhe: há alguém que não ficasse embaraçado se de repente acontecesse aquilo por que se empenhou com paixão durante toda uma vida? Imagine, por exemplo, que o reino de Deus se abatia sobre os católicos, ou o Estado do futuro sobre os socialistas! Mas talvez isto não prove nada; as pessoas habituam-se a exigir, mas não estão preparadas para que os seus desejos se realizem. Alguns acharão que isso é natural. Mas pergunto ainda: sem dúvida que um músico dirá que o mais importante para ele é a música, e um pintor a pintura; provavelmente, um especialista do betão dirá que é a construção de casas de betão. Acha que por isso um deles imaginará Deus como um especialista do betão, e que os outros preferirão ao mundo real um mundo pintado ou tocado por uma trompa? Dirá talvez que estas perguntas não fazem sentido, mas o lado sério da questão é que esse absurdo é aquilo que devíamos exigir! E agora não fique a pensar - prosseguiu ele em tom grave, voltando-se para ela - que com isso quero apenas dizer que nos sentimos atraídos por aquilo que é dificilmente realizável, e que não damos importância àquilo que realmente podemos ter. O que quero dizer é que há na realidade um desejo absurdo do irreal! (p. 389; 390). 


EDUCAÇÃO. Ulrich esclareceu o seu pensamento, lembrando que a educação é apenas uma introdução ao que, no momento, é actual e dominante, nascido de decisões arbitrárias, razão pela qual, para enriquecer o espírito, é preciso acima de tudo estar convencido de que não temos nenhum! E chamou a isso um estado de espírito totalmente aberto, moralmente experimental e poeticamente criador em grande escalar (p. 485).

EMPENHO. - Existe provavelmente uma certa dose de intolerância em tudo aquilo que se faz com empenho total (p. 366).


ENSAIO. Do mesmo modo que um ensaio, no desenvolvimento das suas partes, explora as muitas facetas de um objecto sem nunca o abarcar totalmente - porque uma coisa abarcada na sua totalidade perde subitamente os seus contornos e transforma-se num conceito -, assim também ele pensava que deste modo poderia observar e tratar da forma mais correcta o mundo e a sua própria vida. (p. 343).

ESCRITA. A escrita é uma forma especial de desconversa (p. 447).


ESTADO. Convém dizer que a existência continuada num Estado bem organizado tem qualquer coisa de fantasmático; uma pessoa não pode sair à rua, beber um copo de água ou apanhar o elétrico sem tocar nas alavancas calculadas de um gigantesco aparelho de leis e ligações, sem as pôr em movimento ou se deixar manter por elas na tranquilidade da sua existência. Conhecemos muito pouco dessas alavancas que chegam até aos níveis mais profundos, enquanto, por outro lado, se perdem numa rede cujo emaranhado homem algum jamais conseguiu destrinçar; negamos a sua existência, tal como o cidadão nega o ar, dizendo dele que é o vazio. Mas o mais provável é que essa natureza fantasmática da vida resulte precisamente do facto de tudo aquilo que se nega, tudo o que não tem cor, cheiro, sabor, peso ou moral, como a água, o espaço, o dinheiro e o passar do tempo, ser de facto o que há de mais importante. Por vezes acontece que um homem é assaltado pelo pânico, como num sonho em que a vontade é impotente, por uma chuva de movimentos tempestuosos, como os de um animal apanhado na armadilha incompreensível de uma rede. (p.222)
Estado é o poder de sobreviver na luta das nações. (p. 251)


EUROPEUS. Sua Senhoria tinha deparado, no seu domínio, com um fenómeno importante. Há certos sentimentos de família particularmente violentos, e entre eles contava-se a aversão existente antes da Guerra contra a Alemanha na família dos Estados europeus. Talvez a Alemanha fosse o país menos unido espiritualmente, no qual cada um podia encontrar um alvo para a sua antipatia pessoal; era o país cuja antiga cultura mais sofrera sob as rodas dos novos tempos, dilacerada que fora pelas grandes frases promotoras do kitsch e do comércio; para além disso, era um país agressivo, ávido, fanfarrão e perigosamente imprevisível como qualquer grande massa excitada; mas tudo isso, afinal, era europeu, e apenas poderia parecer um pouco europeu de mais a alguns europeus. Parece simplesmente que tem de haver seres, figuras indesejadas, sobre os quais se deposita o mal-estar, o desentendimento, por assim dizer os resíduos de uma combustão lenta que a vida de hoje vai deixando para trás. Para indizível surpresa de todos os intervenientes, o «pode-ser» dá subitamente lugar a um «é», e aquilo que, neste processo altamente incontrolado, vai caindo, não se ajusta, é supérfluo e não satisfaz o espírito, parece construir aquele ódio que paira, disperso, entre todas as criaturas e é tão característico da civilização actual, substituindo a ausência de satisfação com o nosso próprio fazer pela insatisfação fácil com o dos outros. A tentativa de fazer incidir esse mal-estar sobre certos seres em particular é apenas algo que faz parte dos mais antigos processos psicotécnicos de dominação da vida. Era assim que o feiticeiro extraía do corpo do doente o fetiche previamente preparado, e é assim que o bom cristão transfere os seus erros para o bom judeu e afirma que foi por culpa deste que ele descobriu a propaganda, os juros, os jornais e coisas semelhantes; no decurso dos tempos sempre alguém mandou as culpas para cima do trovão, das bruxas, dos socialistas, dos intelectuais e dos generais; nos últimos anos antes da guerra, por razões que o próprio princípio obscurece, a Alemanha prussiana transformou-se num dos meios mais grandiosos e populares desse estranho procedimento. O mundo não perdeu apenas Deus, perdeu também o Diabo. Do mesmo modo que transfere o mal para bodes expiatórios, transfere o bem para ídolos que adora porque fazem aquilo que cada um considera impróprio fazer. Deixamos que outros se esforcem enquanto nós assistimos sentados, e a isso chama-se desporto; pomos pessoas a fazer os discursos mais parciais e desbragados, e dizemos que é idealismo; sacudimos o mal do nosso capote, e os que apanham com os borrifos são os bodes expiatórios. E assim tudo encontra o seu lugar no mundo e na sua ordem. Mas esta técnica de adoração de santos e de criação de bodes expiatórios pela alienação não deixa de ter os seus perigos, porque enche o mundo com as tensões de todas as lutas interiores não resolvidas. Ou nos matamos uns aos outros ou confraternizamos, sem saber bem se o fazemos seriamente, uma vez que uma parte de nós está fora de nós, e tudo parece acontecer em parte diante, em parte atrás da realidade, como um jogo de mímica de ódio e amor. A velha crença nos demónios que atribuía as responsabilidades de tudo o que de bom e de mau sentíamos a espíritos celestiais ou infernais trabalhava de forma muito mais eficaz, exacta e limpa, e só nos resta esperar que os progressos psicotécnicos nos permitam regressar a ela. (pp. 666; 667).

FELICIDADE. A felicidade depende muito pouco daquilo que se quer, realiza-se apenas com aquilo que se alcança. (p.61)

FILÓSOFOS. Os filósofos são seres violentos que, como não dispõem de um exército ao seu serviço, dominam o mundo encerrando-o num sistema. Provavelmente está aí a explicação para o facto de, nas épocas de tirania, ter havido grandes filósofos, enquanto as fases de civilização e democracia avançadas não conseguem produzir uma filosofia convincente, pelo menos a avaliar pelo desapontamento em geral manifestado a esse respeito. Por isso se pratica hoje a uma escala tão assustadora a filosofia em pequenas doses, de tal modo que as lojas são o único lugar onde se pode comprar alguma coisa que não vem acompanhada de uma visão do mundo; já quanto à grande filosofia, reina uma indubitável desconfiança. (p. 346).

FRAQUEZA. - Ser capaz de renunciar a uma coisa que nos prejudica é uma prova de vitalidade. O ser esgotado sente-se atraído por aquilo que lhe faz mal! E tu, que achas? Nietzsche afirma que um artista dá sinais de fraqueza quando se preocupa demasiado com a moral da sua arte (p.85)


GÉNIO. - De facto, quando olhamos menos para a pessoa do que para a causa há sempre alguma outra pessoa que dá continuidade a essa causa; pelo contrário, quando damos atenção à pessoa, depois de atingido um certo nível ficamos sempre com a impressão de que não há outra pessoa à altura das circunstâncias e que a verdadeira grandeza é coisa do passado! (p. 404).


GOVERNANTES. – Por outras palavras – cortou Arnheim -, compreendo a sua afirmação no sentido de que o estado actual do mundo, sem dúvida insatisfatório, resulta do facto de os governantes acreditarem que têm de fazer história, em vez de dedicarem toda a energia humana a impregnar de ideias a esfera do poder. (p. 810).


HISTÓRIA E REALIDADE. À excepção dos grandes casos, em particular os mais bem sucedidos construtores políticos da realidade têm muito em comum com os autores de sucessos de bilheteira; os acontecimentos animados que geram entediam-nos pela falta de espírito e novidade, mas com isso transportam-nos para aquele estado de sonolência passiva em que aceitamos tudo o que nos põem à frente. Vista assim, a história nasce de uma rotina das ideias e do que é indiferente às ideias, e a realidade nasce sobretudo do facto de nada acontecer em prol das ideias. Podíamos resumir isto, dizia ele, dizendo que pouco nos importa o que acontece, que nos importamos muito mais em saber a quem, onde e quando algo acontece; o que é decisivo para nós, portanto, não é o espírito dos acontecimentos, mas o seu enredo, não a apreensão de novos conteúdos de vida, mas a distribuição do que já existe, numa relação exactamente igual à das boas peças com peças meramente comerciais e populares. Daí resulta, porém, a verdadeira oposição, e a exigência de começar por renunciar à posição de avidez pessoal na relação com as vivências. Teríamos então de as ver menos como pessoais e reais e mais como universais e imaginadas ou como um espírito de despossessão, como se elas fossem pintadas ou cantadas. Não devíamos querer estabelecer ligações entre elas e nós próprios, mas orientá-las para cima e para fora. (p. 484;485).


HISTÓRIA UNIVERSAL. E na história universal nada acontece fora da órbita da razão.
- Mas no mundo está sempre a acontecer.
- Mas nunca na história do mundo! (pp. 244; 245)


HOMEM. - A única coisa de que precisamos na vida é da convicção de que o nosso negócio vai melhor do que o do vizinho. Ou seja: os teus quadros, a minha matemática, a mulher e filhos de qualquer um, tudo aquilo que assegura a um homem que, não ele de modo nenhum especial, não encontrará facilmente quem o iguale nesse seu modo de não ser de modo nenhum especial! (p. 300).

HUMANIDADE. - Deu-se sem dúvida uma reorganização das prioridades. Determinadas preocupações foram retiradas do coração dos homens. Criou-se, para os pensamentos de alto voo, uma espécie de aviário a que se chama filosofia, teologia ou literatura, onde eles se reproduzem à sua maneira e cada vez mais a perder de vista; e é bom que assim seja, porque perante tal multiplicação ninguém precisa de se censurar por não poder ocupar-se pessoalmente de cada um deles. No seu respeito pelo profissionalismo e pela especialização, Ulrich estava determinado a não fazer objecções a essa divisão do trabalho. Mas, ainda assim, permitia-se pensar pela sua cabeça, apesar de não ser filósofo profissional; e no momento actual imaginava o mundo a caminhar para uma organização social do tipo da colmeia. A rainha porá os ovos, os zângãos levarão uma vida dedicada ao prazer e ao espírito, e os especialistas farão todo o trabalho. Uma humanidade assim é perfeitamente viável, e até se poderia aumentar a produtividade global. No nosso tempo cada um ainda tem, por assim dizer, toda a humanidade em si, mas é óbvio que isso se está a tornar incomportável, e deixou de ter eficácia, a ponto de o humano ser quase visto como pura fraude. (p. 477).


HUMANO. - Há milhares de profissões em que se consuma a existência das pessoas; é aí que se concentra a sua inteligência. Mas se exigimos delas o que há de mais universalmente humano e é comum a todos, o que resta só pode reduzir-se a três coisas: a estupidez, o dinheiro ou, no máximo, um resto de memória religiosa. (p. 246)

IDEIA. - Tu queres viver segundo uma ideia - começou -, e gostarias de saber como isso se faz. Mas uma ideia é a coisa mais paradoxal do mundo. A carne associa-se às ideias como um fetiche. Ganha magia quando a ideia se lhe junta. Uma simples bofetada pode tornar-se fatal se lhe associarmos a ideia de honra, castigo ou outra. E no entanto as ideias nunca se podem manter no estado em que são mais fortes; assemelham-se àquelas substâncias que, ao contacto com o ar, se transformam imediatamente numa outra forma, mais duradoura, mas mais impura. Já passaste por isso muitas vezes, porque uma ideia... és tu própria, num determinado estado. Há qualquer coisa cujo sopro te toca, como quando uma nota nasce de repente do sussurro das cordas; tens qualquer coisa diante de ti, como uma miragem, da confusão da tua alma saiu um cortejo infinito, e todas as belezas do mundo parecem estar no seu caminho. Uma única ideia pode por vezes provocar tudo isso. Mas ao fim de algum tempo torna-se semelhante a todas as outras ideias que já tiveste, submete-se a elas, torna-se parte do teu modo de ver o mundo e do teu carácter, dos teus princípios ou dos teus estados de alma, perdeu as asas e ganhou uma consistência desprovida de mistério. (p. 472).



IGNORAR. Não dizia já Cromwell que «um homem nunca vai mais longe do que quando ignora para onde vai?» (p. 133)

INSTRUMENTOS DE ANGÚSTIA. Pois a coisa certa e o tempo de que ela precisa estão ligados por uma força misteriosa, como uma escultura com o espaço a que pertence ou um lançador de dardo com o alvo em que acerta sem olhar para ele. Ulrich já tinha ouvido falar muito de Arnheim, e lera alguns dos seus livros. Num desses livros estava escrito que o homem que observa ao espelho o fato que vestiu é incapaz de uma conduta decidida, porque o espelho, originalmente criado para dar alegria – eram ainda palavras de Arnheim -, tinha-se transformado num instrumento de angústia, tal como o relógio, que é um substituto para o facto de as nossas atividades não se desenrolarem já de forma natural. (p. 248)

INTEGRIDADE. - Isso já não existe - opinou Ulrich. - Basta olhar para um jornal. Estão todos cheios de uma opacidade desmedida. Falam de tantas coisas que ultrapassam de longe a capacidade intelectual de um Leibnitz. Mas nós nem damos por isso; tornámo-nos diferentes. Já não é o homem total face ao mundo total, mas qualquer coisa de humano que se move numa sopa de cultura geral.
(...) Walter continuou em voz baixa:
- Tens razão quando dizes que hoje já nada é sério, racional ou apenas inteligível; mas por que razão te negas a compreender que a culpa é precisamente da racionalidade que tudo ensopa? Instalou-se em todos os cérebros o desejo de nos tornarmos cada vez mais racionais, de racionalizar e especializar mais do que nunca a vida, e ao mesmo tempo a incapacidade de imaginarmos o que vai ser de nós quando tudo estiver sabido, analisado, tipificado, transformado em máquinas e normalizado. Isto não pode continuar assim. (p. 301 e 302).

JUVENTUDE. A arrogância da juventude, que vê nos grandes espíritos tão-somente material para alimentar os seus caprichos, tinha para Ulrich naqueles momentos um estranho encanto. Tentou recordar-se dessas conversas. Eram como sonhos, quando, ao despertar, ainda retemos os últimos pensamentos do sono. E pensou, com alguma surpresa: «Quando, na altura, fazíamos determinada afirmação, ela não tinha de ser correta, só tinha de servir para nos afirmarmos a nós próprios!» Tão mais forte era, na juventude, a necessidade de brilhar do que a de ver claro. E sentia como uma perda dolorosa a lembrança dessa sensação jovem de flutuar como que sobre raios de luz. (p.95)

LUCRO. Na luta pela vida não há lugar para sentimentalismos intelectuais, mas apenas o desejo de liquidar o adversário da forma mais rápida e eficaz. Nisto, somos todos positivistas. E no mundo dos negócios também não seria nenhuma virtude deixarmo-nos enganar, em vez de nos agarrarmos aos factos sólidos; neste campo o lucro mais não é do que uma dominação psicológica do outro, determinado pelas circunstâncias.


MISTÉRIO. (…) era essa também a opinião de Arnheim, pelo que se limitava a acrescentar que se tinha perdido quase totalmente o sentido do profundo mistério moral da pessoa humana. E esse mistério consiste no facto de nem tudo nos ser permitido. Uma época em que tudo é permitido sempre tornou infelizes aqueles que nela viveram. Disciplina, abstinência, cortesia, música, moral, poesia, forma, proibição, tudo isso tem como sentido último conferir à vida uma forma bem delimitada e determinada. Não existe felicidade desregrada. Não existe grande felicidade sem grandes tabus. Até no mundo dos negócios não podemos correr atrás de qualquer vantagem, porque nos arriscamos a não chegar a lugar nenhum. O limite é o segredo dos fenómenos, o mistério da força, da felicidade, da fé e da nossa missão, que é a de nos afirmarmos como ínfimos seres humanos num universo. (pp. 653;654).
MUDANÇA. Tudo está sujeito a mudança, é parte de um todo, de inúmeros todos que provavelmente são parte de um último todo de que, no entanto, não sabe nada. (p. 105)
NOVA ERA. Ideias até aí de fraca aceitação colhiam agora louros. Pessoas por quem antes ninguém daria nada tornavam-se famosas. Os contrastes atenuavam-se, o que estava separado voltava a juntar-se, espíritos independentes faziam concessões ao êxito, o gosto já formado voltava a cair na incerteza. Por toda a parte se tinham esfumado os limites claros, e uma nova capacidade, indescritível, de entrar em alianças fazia emergir novas pessoas e novas ideias. Não eram más, com certeza que não; acontecia apenas que uma pequena percentagem do mau se infiltrava no bom, o erro na verdade, a acomodação na convicção. Parecia mesmo que havia nesta mistura uma percentagem favorita capaz de obter os maiores sucessos; a medida exata de sucedâneo que fazia o génio parecer mais genial e o talento apresentar-se como grande esperança; qualquer coisa como aquela pequena porção de figo ou de chicória que, segundo alguns, dá ao café o seu verdadeiro gosto a café. E de um dia para o outro todas as posições importantes e privilegiadas da vida do espírito foram ocupadas por gente dessa, e todas as decisões que se tomavam iam nesse sentido. Não se pode dizer que isto ou aquilo foi responsável por tal situação, nem como se chegou aí. É impossível lutar contra pessoas ou ideias, ou contra certos fenómenos. Não há falta de talentos nem de boa vontade, nem sequer de carácter. A questão é que tanto pode faltar tudo como nada. É como se o sangue ou o ar se tivessem transformado: uma doença misteriosa consumiu a ínfima semente de genialidade da época anterior, mas tudo reverbera com o brilho do novo, e por fim já não se sabe se foi o mundo que ficou pior ou simplesmente nós que envelhecemos. É o começo definitivo de uma nova era. (pp. 96; 97)

PESSIMISMO.  (...) não será o pessimismo aquilo que os homens de acção sentem sempre quando entram em contacto com os homens que fazem das palavras o seu comércio? (p. 405).
POLÍCIA. O mais espantoso em tudo isto é que a polícia não só é capaz de desmembrar uma pessoa de tal modo que nada dela reste, como também de a montar de novo a partir dessas peças insignificantes, e de a reconhecer nelas. Para que isso aconteça, basta acrescentar-lhe aquele imponderável a que chama suspeita. (p. 226)

POLÍTICA. Uma política realista significa: não fazer precisamente aquilo que queremos fazer. Em contrapartida, podemos conquistar as pessoas satisfazendo os seus pequenos desejos! (...) Como vê - explicou -, acabo de afirmar que uma política realista não pode deixar-se conduzir pelo poder da ideia, mas pelas necessidades práticas. Naturalmente que todos gostariam de poder concretizar as mais belas ideias, isso é óbvio. Portanto, o que importa é não fazer aquilo que gostaríamos de fazer. Já Kant o afirmou. (p. 464).
PROGRESSO. Todo o progresso é um ganho no particular e um desmembramento no todo; é um aumento de poder que desemboca num progressivo aumento de impotência, e contra isto não há nada a fazer. (p. 219)
RESPONSABILIDADE. Hoje, pelo contrário, a responsabilidade deixou de ter o seu centro no indivíduo, e passou a tê-lo nas circunstâncias. Não houve já quem afirmasse que os acontecimentos se tornaram independentes das pessoas? Passaram-se para o teatro, para os livros, para os relatórios dos centros de investigação e das expedições científicas, para as comunidades ideológicas e religiosas, que fomentam determinados tipos de acontecimentos à custa dos outros, como uma grande experiência social; e se esses acontecimentos não se encontrarem em desenvolvimento, ficam pura e simplesmente a pairar no ar. Quem poderá, hoje, dizer ainda que a sua cólera é realmente a sua cólera, quando tanta gente fala dela e sabe mais disso que ele próprio? Nasceu um mundo de qualidades sem homem, de vivências sem aquele que as vive, e quase parece que, em última análise, a experiência de cada um se tornou impossível e o fardo ameno da responsabilidade pessoal se vai dissolver num sistema de fórmulas de significados apenas possíveis. A dissolução dos comportamentos antropocêntricos, que durante tanto tempo tomou o homem por centro do universo, mas está a desaparecer há séculos, chegou provavelmente ao próprio eu, já que a crença de que o mais importante da vivência é vivê-la e o mais importante da ação é fazê-la começa a parecer uma ingenuidade para a maior parte das pessoas. Haverá certamente ainda pessoas que vivem de forma muito pessoal; dizem «Ontem estivemos em casa de fulano ou beltrano», ou «Hoje vamos fazer isto ou aquilo», e ficam muito contentes, sem que isso, aparentemente, precise já de ter significado e conteúdo. Gostam de tudo o que podem tocar com os próprios dedos, e são pessoas puramente privadas, até onde isso é possível; o mundo transforma-se em mundo privado logo que se relaciona diretamente com elas, e cintila como um arco-íris. Talvez sejam muito felizes; mas este tipo de pessoas é já visto pelos outros como absurdo, apesar de ainda ninguém saber por que razão. (pp. 214; 215).

ROMANCE E POESIA. E ocorreu-lhe um daqueles pensamentos ínvios e abstractos que na sua vida tantas vezes se haviam revelado importantes: neste caso, a ideia de que a lei a que aspiramos para esta vida, sobrecarregados e sonhando com a simplicidade, não é outra senão a lei da ordem da narrativa! Aquela ordem simples que consiste em podermos dizer: «Primeiro aconteceu isto e depois passou-se aquilo!» O que nos tranquiliza é a simples sequência, a reprodução da esmagadora diversidade da vida numa ordem unidimensional, como diria um matemático; o alinhamento de tudo o que aconteceu no tempo e no espaço ao longo de um fio, precisamente o célebre «fio da narrativa», feito da mesma matéria do fio da vida. Feliz aquele que pode dizer «quando», «antes de» e «depois de»! Pode ter-lhe acontecido uma desgraça, pode ter-se contorcido de dores: assim que conseguir reproduzir os acontecimentos na ordem da sua sucessão temporal sentir-se-á tão bem como se o Sol lhe aquecesse o estômago. Foi disto que o romance, artificialmente, soube tirar partido: o viandante pode cavalgar estrada fora sob chuva torrencial ou fazer estalar a neve sob os pés com vinte graus negativos, que o leitor sentir-se-á confortável, e isso seria difícil de compreender se este eterno recurso da arte de narrar, que já a ama usa para acalmar os mais pequenos, se este provado e comprovado «encurtamento da perspectiva da razão» não pertencesse também ao âmbito da vida. Na relação essencial consigo próprias, a maior parte das pessoas são narradores. Não gostam da poesia, ou então é apenas momentaneamente, e ainda que integrem no fio da vida alguns «porquês» e «para quês», detestam toda a reflexão que vá para além disso: gostam da sequência ordenada dos factos porque isso parece corresponder a uma necessidade, e a sensação de que as suas vidas têm um «rumo» fá-las sentirem-se protegidas no meio do caos. (p. 827).

SABER. O saber é uma forma de comportamento, uma paixão. No fundo, um comportamento ilícito; porque, tal como a dependência do álcool, do sexo ou da violência, também a compulsão de saber molda um carácter em desequilíbrio. É um erro pensar que o investigador persegue a verdade; de facto, é ela que o persegue a ele. É ele que tem de suportá-la. A verdade é verdadeira, o facto é real, sem se preocuparem com ele: ele é que sofre da paixão, da dipsomania dos factos que define o seu carácter, e está-se nas tintas para saber se as suas descobertas levarão a alguma coisa de total, humano, perfeito ou que quer que seja. É uma natureza contraditória, sofredora e, ao mesmo tempo, incrivelmente enérgica! (pp. 298; 299).

O saber começou a ser visto como obsoleto, tinha começado a impor-se o tipo de homem impreciso que ainda domina o tempo presente. (p. 342).

- Toda a gente começa por reflectir sobre o sentido global da vida - explicou -, mas quanto mais se pensa, mais o seu âmbito se estreita. Quando chega à idade madura, tens à tua frente alguém que, no milímetro quadrado de espaço que lhe cabe, sabe tanto como, em todo o mundo, no máximo duas dúzias de outras pessoas, que tem plena consciência de que todas as pessoas que não sabem tanto como ele só dizem disparates sobre o que ele sabe, e que apesar disso não tem por onde se mexer, porque, se se desviar do seu lugar, por um micromilímetro que seja, é ele que começará a dizer disparates. (p. 359).

SENTIMENTO. – Qualquer sentimento que não seja ilimitado não tem valor. (p. 741).

SENTIMENTO DE SI. À excepção dos azarados e dos felizardos, toda a gente vive igualmente mal, mas em níveis diferentes. Este sentimento de si, traduzido na imagem dos diversos níveis, é um sucedâneo muito desejável para o homem de hoje, que em geral tem uma fraca noção do sentido da sua vida. (p. 442).
SER. No fundo, poucas pessoas saberão, a meio da vida, como chegaram a ser o que são, aos seus prazeres, à sua visão do mundo, à sua mulher, ao seu carácter, à sua profissão e aos seus êxitos; mas sentem que a partir daí as coisas já não irão mudar muito. Poderia mesmo afirmar-se que foram enganadas, porque não se consegue descobrir em lugar nenhum a razão suficiente para que tudo tenha acontecido como aconteceu, quando teria sido perfeitamente possível ter acontecido de outra forma. O que acontece, aliás, raramente depende da iniciativa dos homens, mas quase sempre das mais variadas circunstâncias, dos caprichos, da vida e da morte de outras pessoas, e, de certo modo, limita-se a vir ter connosco naquele preciso momento. Na juventude, a vida está ainda à nossa frente como uma manhã inesgotável, plena de possibilidades e de vazio; mas logo ao meio-dia algo se anuncia que reclama ser a nossa própria vida, mas que é tão surpreendente como uma pessoa com que nos correspondemos durante vinte anos sem a conhecer, e que um belo dia, de repente, temos diante de nós e constatamos que é completamente diferente do que havíamos imaginado. Mas o mais estranho é que a maior parte das pessoas nem deem por isso; adotam aquele que veio ter com elas e cuja vida se fundiu com a própria, as vivências dele parecem-lhes agora ser a expressão das suas próprias qualidades, e o destino dele é o seu mérito ou sua desgraça. Sucedeu-lhes o mesmo que às moscas com o papel mata-moscas: algo as apanhou por um pelo, lhes impediu os movimentos, as manietou a pouco e pouco até ficarem sepultadas sob uma espessa cobertura que já só vagamente corresponde à sua forma primitiva. (p. 190)
TÉCNICA DE BISMARCK. Para alcançar os seus fins, servia-se neste caso da técnica de Bismarck, que de resto não gostava de tomar como exemplo: punha na boca dos jornalistas as suas verdadeiras intenções, para, de acordo com os ventos que soprassem, as poder confirmar ou desmentir. (p. 202)

UTOPIA DA EXACTIDÃO. Uma utopia é mais ou menos o equivalente de uma possibilidade; o facto de uma possibilidade não ser uma realidade significa apenas que as circunstâncias com as quais a primeira está articulada num determinado momento a impedem de ser a segunda, porque de outra forma ela mais não seria do que uma impossibilidade. Se essa possibilidade for liberta das suas dependências e puder desenvolver-se, nasce a utopia. É um processo semelhante àquele que se verifica quando um investigador observa a transformação de um elemento num composto para daí tirar as suas conclusões. A utopia é a experiência na qual se observam a possibilidade de transformação de um elemento e os efeitos que ela provocaria naquele fenómeno composto a que chamamos vida. Se o elemento observado for a própria exactidão, se o isolarmos e o deixarmos desenvolver-se, se o considerarmos como hábito de pensamento, atitude de vida, e deixarmos que ele exerça a sua força exemplar sobre tudo o que entra em contacto com ele, chegaremos a uma noção de ser humano no qual encontraremos uma paradoxal aliança entre exactidão e indeterminação. Terá aquela frieza incorruptível e deliberada que corresponde ao temperamento da exactidão, mas, para lá desta qualidade, tudo o resto é nele indeterminado. Os contornos bem definidos da vida interior, assegurados pela moral, têm pouco valor para um homem cuja imaginação se orienta no sentido da mudança; enfim, quando a exigência de mais plena e exacta realização no plano intelectual se transfere para o das paixões, o espantoso resultado, a que já fizemos alusão, é que as paixões desaparecem para dar lugar a uma forma de bondade que se assemelha ao fogo das origens.
É a utopia da exactidão. Não saberemos dizer de que modo esse ser humano passará os seus dias, uma vez que não pode pairar eternamente em acto de criação, e terá sacrificado o fogo doméstico das sensações mais limitadas a um incêndio da imaginação. Mas este homem da exactidão já existe. Na sua condição de homem dentro do homem, vive não apenas no investigador, mas também no comerciante, no organizador, no desportista, no técnico, ainda que apenas de forma provisória, naquelas horas do dia a que chamam, não a sua vida, mas a sua profissão. Porque para aquele que assim vê as coisas, de forma radical e despida de preconceitos, nada é mais desprezível do que a ideia de se levar a sério a si próprio. Infelizmente, não se pode duvidar de que ele veria a utopia de si próprio como uma experiência imoral exercida sobre pessoas seriamente empenhadas no que fazem.
É esta a razão pela qual Ulrich, em toda a sua vida, se sentiu sempre bastante isolado quando se tratava de saber se devemos adaptar todas as outras às formas mais poderosas da nossa realização interior ou, por outras palavras, se poderemos encontrar uma finalidade e um sentido para aquilo que nos aconteceu e acontece. (pp. 338; 339).

VAIDADE. Como lhe ensinaram que não deve trazer a vaidade no coração, o homem colocou-a em grande parte debaixo dos pés, caminhando sobre o chão de uma grande pátria, de uma religião ou de um certo nível de impostos sobre o rendimento; na falta de uma posição deste tipo, contenta-se com aquilo que qualquer um podo ter, o encontrar-se no cume provisoriamente mais alto da coluna do tempo que se ergue sobre o vazio, ou seja, o viver neste momento e não noutro, um momento em que os que vieram antes já se tornaram pó e os vindouros ainda não estão aí. Mas se essa vaidade, que geralmente é inconsciente, nos sobe por qualquer razão dos pés à cabeça, isso pode provocar uma loucura mansa semelhante à daquelas virgens que julgam estar grávidas do próprio globo terrestre. (p. 315).

VENERAÇÃO. Tivemos grandes homens na nossa história, e consideramo-los uma instituição nacional, a par das prisões ou do exército; a partir do momento em que existem, tem de se meter alguém lá dentro. Para isso, e recorrendo a um certo automatismo próprio de tais necessidades sociais, escolhe-se o primeiro que está na calha e concedem-se-lhe as honras disponíveis no momento. Mas tal veneração nunca é verdadeiramente autêntica; lá no fundo espreita a convicção, bastante generalizada, de que ninguém a merece, e torna-se difícil dizer então se a boca se abre por entusiasmo ou para bocejar. Há qualquer coisa de culto dos mortos na atribuição de genialidade a um homem, quando se admite tacitamente que hoje em dia tal coisa não existe. É como aquelas formas histéricas e exibicionistas do amor, que não têm outra razão de ser senão a de uma total ausência de sentimento. (p. 402).
VALOR. É preciso que o homem se sinta primeiro limitado nas suas possibilidades, nos seus planos e sentimentos pela ação dos preconceitos, das tradições, de dificuldades e constrangimentos, como um louco num colete de forças, para que aquilo que ele consegue realizar tenha algum valor, maturidade e solidez… (p. 47)
VIDA. Mas acontece que a vida nada constrói sem arrancar de outro lugar qualquer as pedras de que precisa. (p. 150)
O homem sem qualidades (I)- Robert Musil (tradução de João Barrento, Publicações D. Quixote, 2008).

Quo Vadis. Lower Dens