07.09.2011. Portagem para o Magic Kingdom. Disney Orlando
quinta-feira, 5 de janeiro de 2012
31.08.2011. NY
"A principal característica do taxista de Nova Iorque é que não é abelhudo (não nos pergunta quem somos, nem o que fazemos, nem de onde vimos, a menos que lhe ofereçamos tais informações de forma espontânea), mas conta-nos todas, mas mesmo todas as suas maleitas, desde o pé inchado até à dor de cabeça." in Nova Iorque. Brendan Behan (Tinta-da-China, 2010).
A pluma caprichosa. Alexandre O´Neill ("como os amantes quando percorrem as ruas desertas dum jardim | um pouco a medo")
[...]
Estou onde não devia estar
E o destino passa por mim como uma pluma caprichosa
passa pelos olhos dum gato
como o avião passa no céu do camponês
como a cidade passa pelo convalescente
que sai pela primeira vez
Nos olhos da mulher que não perdi nem ganhei
nos olhos que durante um segundo me compreenderam e amaram
na sua ternura quase insuportável
o destino passa
No amigo que lentamente é puxado para o outro lado da razão
e um dia mergulha na sombra que trazia em si por resolver
o destino cumpre-se e passa
Na praia nocturna que as ondas visitam e deixam
como as imagens que sem cessar me assaltam e abandonam
na espuma que esmago contra a areia muito fria
na mulher que me acompanha e comigo se perde na noite
nos soluços de luz verde que um farol nos envia
o destino detém-se e passa
Na inesperada hora de felicidade
vivida um pouco a medo
como os amantes quando percorrem as ruas desertas dum jardim
um pouco a medo
como a breve noite de amor em que um homem se encontra e refugia
o destino demora-se e passa
Estou onde não devia estar
[...]
Excerto. Poesias Completas de Alexandre O´Neill (Assírio & Alvim, 2000)
Estou onde não devia estar
E o destino passa por mim como uma pluma caprichosa
passa pelos olhos dum gato
como o avião passa no céu do camponês
como a cidade passa pelo convalescente
que sai pela primeira vez
Nos olhos da mulher que não perdi nem ganhei
nos olhos que durante um segundo me compreenderam e amaram
na sua ternura quase insuportável
o destino passa
No amigo que lentamente é puxado para o outro lado da razão
e um dia mergulha na sombra que trazia em si por resolver
o destino cumpre-se e passa
Na praia nocturna que as ondas visitam e deixam
como as imagens que sem cessar me assaltam e abandonam
na espuma que esmago contra a areia muito fria
na mulher que me acompanha e comigo se perde na noite
nos soluços de luz verde que um farol nos envia
o destino detém-se e passa
Na inesperada hora de felicidade
vivida um pouco a medo
como os amantes quando percorrem as ruas desertas dum jardim
um pouco a medo
como a breve noite de amor em que um homem se encontra e refugia
o destino demora-se e passa
Estou onde não devia estar
[...]
Excerto. Poesias Completas de Alexandre O´Neill (Assírio & Alvim, 2000)
Livro da noite. Per Aage Brandt (Quetzal, 2004)
quando duma coisa
decorre outra
e desta decorre
outra vez a primeira
então a primeira
não vale a pena
*
o homem é um hóspede efémero da terra,
pensava o poeta asteca, mas um hóspede
nem sempre é um homem aqui na terra;
na rua, num país estrangeiro, na cama de alguém,
acontecem coisas estranhas, um coração é uma
arma eficaz, e (citação) de qualquer modo morreremos,
abandonando-nos uns aos outros, abraçados, com a língua na
orelha
de um corpo que vibra de prazer ou se alonga num grito de
guernica,
depois do encontro com alguém que passou
e desapareceu ou tomou a decisão de ficar
*
nós somos assaz complexos e por isso
deprimidos no limite do existencial, é impossível
dizer o que qualquer coisa significa, além do que significa,
e isso torna-nos assas complexos, sabemos, e isso entristece-nos
tanto que é impossível dizê-lo, o que nos vai tornar
eminentemente
existenciais, congratulando-nos muito com isso, na catedral
apertamos
as mãos e agradecemos a indizibilidade de cada um, depois
tomamos o rumo
da cidade para ver os saltimbancos no mercado efervescente,
feito
de mistérios de cores dominicais, relíquias, atiradores de tartes
e macacos de realejo, postais, músicos constipados, alguns
poetas que rimam por encomenda e pares de apaixonados,
confundidos num único abraço, enquanto é tempo,
e o ser permanece: o real ainda é possível
decorre outra
e desta decorre
outra vez a primeira
então a primeira
não vale a pena
*
o homem é um hóspede efémero da terra,
pensava o poeta asteca, mas um hóspede
nem sempre é um homem aqui na terra;
na rua, num país estrangeiro, na cama de alguém,
acontecem coisas estranhas, um coração é uma
arma eficaz, e (citação) de qualquer modo morreremos,
abandonando-nos uns aos outros, abraçados, com a língua na
orelha
de um corpo que vibra de prazer ou se alonga num grito de
guernica,
depois do encontro com alguém que passou
e desapareceu ou tomou a decisão de ficar
*
nós somos assaz complexos e por isso
deprimidos no limite do existencial, é impossível
dizer o que qualquer coisa significa, além do que significa,
e isso torna-nos assas complexos, sabemos, e isso entristece-nos
tanto que é impossível dizê-lo, o que nos vai tornar
eminentemente
existenciais, congratulando-nos muito com isso, na catedral
apertamos
as mãos e agradecemos a indizibilidade de cada um, depois
tomamos o rumo
da cidade para ver os saltimbancos no mercado efervescente,
feito
de mistérios de cores dominicais, relíquias, atiradores de tartes
e macacos de realejo, postais, músicos constipados, alguns
poetas que rimam por encomenda e pares de apaixonados,
confundidos num único abraço, enquanto é tempo,
e o ser permanece: o real ainda é possível
ponto da situação
"Entretanto o modo de viver modificou-se profundamente, a criminalidade difunde-se, os jovens desinteressam-se da política mas as discotecas estão repletas e alguns lançam-se em acções violentas; as classes altas enriqueceram mais, as classes médias debatem-se com dificuldades embora não abdiquem das conquistas da tecnologia, dois milhões vivem abaixo de um nível aceitável. Transformações políticas, económicas, sociais, culturais, afectando as relações sexuais e as estruturas familiares, não favorecendo a eclosão da personalidade porque se desistiu de ideais em nome de um «pragmatismo» enganador e a meta da vida é ganhar mais trabalhando menos (a realidade é trabalhar mais para ganhar menos)."
in Problematizar a sociedade. Vitorino Magalhães Godinho (Quetzal, 2011).
in Problematizar a sociedade. Vitorino Magalhães Godinho (Quetzal, 2011).
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