quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Introdução à Semiótica. Adriano Duarte Rodrigues

"[...] todos os fenómenos que o homem percepciona, concebe, comunica e interpreta têm na linguagem o seu ponto de partida e o seu ponto de chegada.
As manifestações semióticas não linguísticas só adquirem significação pelo facto de serem ou de poderem ser manifestadas verbalmente. O homem só entende as significações do mundo que o envolve pelo facto de saber que, mesmo quando as não explicita verbalmente, o poderá fazer sempre que queira. É por isso que aquilo que não sabemos dizer não existe realmente para nós, não integra o nosso mundo humano. Mas, por outro lado, a linguagem já está à partida de toda a nossa actividade semiótica, como herança que recebemos e que preside à organização da nossa percepção do mundo e ao sentido que ele tem para nós."

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"Acima do limiar superior do campo semiótico, situa-se uma vasta esfera que Ferdinand de Saussure considerava «nebulosa», espécie de magma mental informe. Louis Hjelmslev deu-lhe o nome de «matéria». Em si mesmo, independentemente da sua formação sígnica, este campo é indizível, inomeável. Pertencem a este campo supra-semiótico as chamadas concepções do mundo, domínio que os alemães costumam designar como Weltanschauumgen. É o domínio por excelência do mítico e do ideológico. Mas nele são compreendidos igualmente os aspectos funcionais ou utilitários das obras culturais."

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"Toda e qualquer acção humana é assim sempre significante, expressiva. Um automóvel significa inevitavelmente, para além das suas funções utilitárias de deslocação, os valores sociais de que está investido: prestígio, standing, desportivismo, juventude, feminilidade. É precisamente por este motivo que a publicidade pode jogar estrategicamente com a imbricação destas diversas dimensões dos objectos culturais para produzir sempre novos valores significantes."

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"«Imagine que acordo numa manhã antes da minha mulher e que quando ela acorda me pergunta: "Que tempo está hoje?" Isto (esta pergunta) é um signo cujo objecto imediato (o objecto tal como ele é expresso) é o tempo que está neste momento mas o seu objecto dinâmico é a expressão que devo ter tido ao olhar através das cortinas da janela; e o seu interpretante imediato (ou o interpretante tal como ele é expresso por este signo) é a qualidade do tempo, mas a sua interpretação é a minha resposta à pergunta. Mas, além disto, há um terceiro interpretante. O interpretante imediato é aquilo que esta pergunta exprime, tudo aquilo que ela exprime imediatamente. O interpretante dinâmico é o efeito real que esta pergunta surte em mim, que sou o seu intérprete. Mas o sentido derradeiro, ou interpretante final, último, é aquilo que a minha mulher tinha em vista, ou aquilo que era a sua intenção, ao fazer-me esta pergunta, qual seria o efeito que a minha resposta teria tido para os seus projectos acerca desse dia.»"