sexta-feira, 6 de agosto de 2010

o poema é este

o poema é este
sentido é
norte e sul são gentios
bússola pai

naquele tempo dito isso
e isto dito assim
denota conotação bíblica como gostarias
e de seguida aludir às canções da missa
e da barba na espuma dos domingos
de manhã eu aleluia acordava
e vingava-me com ok computer
draconian times, razorblade suitcase
without you i´m nothing
(faltaram-me nevermind e mellan collie
faltam-me ainda
tenho de ver isso)

naquele tempo
não havia tempo dito isso
havia a gaveta do totoloto
a crucificação dos números
um saco com quarenta e cinco quadrados de esferovite
uma caneta com tômbola
o hábito do registo
a espera e o esquecimento do sorteio
espera e esquecimento, como tudo
o que se espera e de esperar se esquece
a procura da chave na ânsia de um três
a espera, o esquecimento e a ânsia, como tudo
o que se espera e de esperar se esquece, se acorda, se anseia
e na ânsia se espera

jogaste todas as semanas para te calhar
um ritual

naquele tempo
não havia tempo
para estarmos no mesmo tempo dito isso
havia a bicicleta
duas molas nas calças
para pedalar o domingo
dizerem-me que te viram por todo o lado
e no verão no muro do Berlim
à espera da festa dos baldes de água
às duas da manhã sobre a malta

amanhar a terra ao sábado
ir à lenha ou protestar a chuva
ainda bem, que assim eu não ia

sossegar a gata na hora da novela

naquele tempo
não havia tempo
para estarmos no mesmo tempo
a olhar o tempo dito isso
mas houve uma tarde derradeira
dois cornetos sentados no jardim do hospital
em silêncio olhando em frente
sorvendo o tempo unificado

o poema é este
sentido é
norte e sul são gentios
bússola pai