terça-feira, 14 de junho de 2011

Perguntas mortiças a um escritor quando vivo

"Roberto Bolaño: últimas entrevistas" (tradução portuguesa da Quetzal em 2011) reune quatro sessões de perguntas / respostas, nenhuma delas conduzida por Carlos Vaz Marques e todas tão desnecessárias quanto o riso delicodoce típico das investidas de Carlos Vaz Marques. Desta vez e se possível apenas com outro jeito, Carlos Vaz Marques teria dado jeito ao interlocutor.

Bem, do mal o menos:

"[...] e depois não há outra opção que não seja escrever. Para mim, a palavra «escrita» é exactamente o oposto da palavra «espera». Em vez de esperar, há escrever. Bem, provavelmente não tenho razão - é possível que escrever seja outra forma de esperar, ou de adiar coisas. Gostava de pensar doutra maneira. Mas, como disse, provavelmente não tenho razão."

"A literatura está cheia de autobiografias, algumas muito boas, mas os auto-retratos tendem a ser maus, incluindo os auto-retratos em poesia, que à primeira vista pareceria ser um género mais adequado para nos auto-retratarmos do que a prosa."

"Nicanor Parra diz que os melhores romances são escritos com métrica. E Harold Bloom diz que a melhor poesia do século XX é escrita em prosa. Concordo com ambos."

"É como aquela anedota acerca da mãe judia: num acesso de loucura, o filho corta a cabeça da mãe, foge, depois tropeça e, quando tropeça - com a cabeça da mãe ainda nos braços - a cabeça diz: «Filho, estás bem?» O amor de um pai pelo seu filho é semelhante."

"Para mim, o grande poeta do Chile é Nicanor Parra e depois de Nicanor Parra há vários outros. Neruda é um deles, sem dúvida. Neruda é o que eu pretendia ser aos vinte anos: viver como um poeta sem escrever. Neruda escreveu três livros muito bons; o resto - a grande maioria - é muito mau, alguns deles verdadeiramente contaminados."

"A crítica literária é uma disciplina que representa algo mais para mim do que literatura. A literatura é prosa, romance e conto, dramaturgia, poesia, ensaios literários e crítica literária. Acima de tudo, acho que é necessário que exista crítica literária - sem acidentes - nos nossos países, e não dez linhas acerca de um autor que provavelmente o crítico não voltará a ler. Quer isto dizer que é necessário que haja uma crítica que, de caminho, corrija a paisagem literária."

"Comovem-me os jovens de aço que lêem Cortázar e Parra, tal como eu os li e como tento continuar a lê-los. Comovem-me os jovens que dormem com um livro debaixo da cabeça. Um livro é a melhor almofada que existe."

"Mónica Maristain - O que é que o aborrece?
Roberto Bolaño - O discurso vazio da esquerda. O discurso vazio da direita, já o dou por adquirido."