quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Adiamento

Esta tarde pensei em voltar aos poemas quando chutei a ponta de um cigarro
no Largo da Portagem e a vi sumir-se entre as pedras.
No percurso até ao carro fui mapeando a calçada mas eu já não sei
se vim pelas pedras, se me afundei pelas fendas.
Volto de Coimbra como se ainda viesse atrás de um carro funerário
na marcha lenta dos Covões. Felizmente posso parar
numa área de serviço e comer qualquer coisa só para praguejar do preço
e sair satisfeito mais pelo encolher de ombros das funcionárias do que pela sandes,
e de pensar que se estivesse em 1986, de modo nenhum eu viria
pela autoestrada. Isto porque anda aqui a biografia do Assis Pacheco
e uma catrefada de leituras no trólei.
O lugar das coisas adiadas é nas fendas, entre as pedras - digo para mim
e acrescento o meu nome completo.
Depois chego à Nazaré,
onde os poemas começam e se adiam.