quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

o fungágá da livralhada

As melhores leituras em 2011 foram:

Emigrantes. Shaun Tan (Kalandraka, 2011)
Porque nesta obra visual vislumbro todas as imagens e sombras do partir.

Suite 605. João Pedro Martins (Smartbook, 2011)
É uma investigação por conta própria a chapar-nos nos olhos os esquemas de como nos roubam alegremente. Aqui o link.

É de noite que faço as perguntas. David Soares (Saída de Emergência, 2011)
Um texto desarmante para quem estava à espera de uma bêdêzinha feita para agradar ao patrocinador do centenário de um feriado essencial (que para mim assinala a não aceitação de uma seita privilegiada), agora extinto (pelo menos o feriado; o patrocinador não sei). O texto termina assim.

Storytelling. Gabriel García de Oro (GestãoPlus, 2011)
Várias histórias já me eram conhecidas e chegam-me em forward no email de tempos a tempos. O livro está pensado para as relações de trabalho, mas serve melhor como desbloqueador de conversa. E para os mais penitentes também inclui uma oração.

Guia de conceitos básicos. Nuno Júdice (Dom Quixote, 2010)
Enfiei aqui três poemas deste livro com que cheguei a 2011 e a que gosto de regressar às mijinhas. Tal e qual como quem gosta dos pensamentos selecionados do Paulo Coelho.

A chama dupla - amor e erotismo. Octavio Paz (Assírio e Alvim, 1995)
Com este livro em casa há tantos anos, é estúpido que só agora eu o tenha abraçado.

 O retorno. Dulce Maria Cardoso (Tinta da china, 2011)
Li-o numa noite porque fiquei agarrado à procura do pai do protagonista desta história. Gosto dele não pela sua faceta de romance histórico - que particularmente o contexto pouco me interessa - mas pela dimensão poética do texto narrado na simplicidade de um rapaz e pela torrente de imagens que gera, absolutamente cinematográfico. Um poema sóbrio e sem artifícios, sem os malabarismos de um António Lobo Antunes.

O leitor escreve para que seja possível. Manuel Gusmão e Eduardo Coelho (Assírio & Alvim, 2001).
Ensina a ler. Faz parte do meu guia de orientação.

Coisas que nunca aconteceriam em Tóquio. Alberto Torres Blandina (Quetzal, 2011)
Não interessa que esta ficção de aeroporto conjugue episódios mais prováveis ou improváveis. Este livro não vale pela verosimilhança mas pelo prazer da leitura, pela degustação, que é afinal de contas a melhor forma de provar alguma coisa. Um gozo.

A dança das feridas. Henrique Manuel Bento Fialho (edição do autor, 2011)
Pois. É o melhor livro publicado este ano e esta dança alinhou o espanto e o prazer do texto numa cadência que talvez o poeta queira sempre irrepetível. Li-o à luz de um manual do mesmo autor - O meu cinzeiro azul - para respirar entre as modinhas.

O meu cinzeiro azul. Henrique Manuel Bento Fialho (Canto Escuro, 2007)
Este é o livro mais sublinhado do ano: quero sintetizá-lo (porque está organizado pela data dos textos), recolhendo-o por temas: o que o autor diz que a poesia é; o que o autor diz que a poesia não é; a necessidade e o papel da poesia; o princípio da poesia; o futuro da poesia; o obstáculo da poesia; o sentido da vida na poesia; o sentido da poesia na vida; o lugar do poema; a função do poema; a relatividade na poesia; a liberdade na poesia; a fúria na poesia; a crítica; o poeta; o leitor; o amor. Portanto, é livro para 2012.

Antologia poética. António Ramos Rosa (Dom Quixote, 2001)
É o meu poeta e este ano estimei-o com a leitura integral deste bloco.