domingo, 1 de agosto de 2010

"Estado Civil - diário de uma crise". Pedro Mexia (Tinta-da-China, 2009)

"DEMOGRAFIA
Claro que há «muitas mulheres no mundo». Mas isso é um comentário estritamente sexual."

"Is OK
O ódio por nós mesmos é normal. Eu também tenho ódio por mim mesmo. É normal. O que é mau é não sabermos como sair dele, não sabermos como geri-lo. Se conseguirmos entender claramente o seu mecanismo, o ódio por nós mesmos é, na realidade, uma coisa boa, porque nos ajuda a compreender os outros. (Orhan Pamuk, (...))"

"O MEU MELHOR
Em quase todas as derrotas, não me empenhei o suficiente. E houve até derrotas que procurei, de tanta falta de empenho. Intempestivo e angustiadamente displicente, como se isso afinal de contas não fosse importante. Mas quando damos tudo, como no poema de Yeats («Never give all the heart»), e falhamos, quando damos o nosso melhor e o nosso melhor não chega, é impossível continuar tudo como dantes, não extrair conclusões, não tomar decisões, não ter algumas dúvidas que são certezas. Quando o nosso melhor não chega, nada disto vale a pena."

"AFTERIMAGE
É como aquela reacção óptica que em inglês se chama «afterimage» (persistência retiniana, em português). Quando olhamos fixamente alguma coisa (digamos, uma lâmpada acesa) e depois fechamos os olhos, surge uma imagem ou um brilho no interior dos olhos fechados durante uns segundos. É o brilho da imagem que já perdemos."

"ISOLACIONISMO
Sempre detestei o isolacionismo («prática oficial de um Estado ou Nação em fechar-se aos demais, quer económica, quer politicamente»). A minha vida durante treze anos merece muitos epítetos (muitos deles justamente ridículos), mas nunca o de «isolacionista». Bem pelo contrário. Mas pronto, já chega, depois de algumas guerras desastrosas é altura de não ir a guerra nenhuma, uma espécie de pacifismo instrumental, profundamente hipócrita mas seguro. Depois de uma guerra recente baseada em invenções e informações falsas, há que ter alguma vergonha na cara. Pouco importam os «desejos profundos»: o que interessa é a «prática oficial». Manda quem pode, obedece quem deve; mesmo que um e outro sejam a mesma pessoa."

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