domingo, 31 de julho de 2011

Octavio Paz e a desdita

"Pouco podemos contra os infortúnios que o tempo reserva a cada homem e a cada mulher. A vida é um risco permanente, viver é expor-se. A abstenção do ermitão acaba em delírio solitário, a fuga dos amantes em morte cruel. Outras paixões podem seduzir-nos e arrebatar-nos. Umas superiores, como o amor a Deus, ao saber ou a uma causa; outras baixas, como ao dinheiro ou ao poder. Em nenhum desses casos desaparece o risco inerente à vida: o místico pode descobrir que corria atrás de uma quimera, o saber não defende o sábio da decepção que é todo o saber, o poder não salva o político da traição do amigo. A glória é uma cifra frequentemente equivocada e o esquecimento é mais forte que todas as reputações. As desditas do amor são as desditas da vida."

In A chama dupla - amor e erotismo. Octavio Paz, Assírio & Alvim, 1995.

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