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“Um esqueleto cor de cobre, com um trapo à cintura, trouxe-me um frasco de vidro com água, com um cachimbo normal por cima e uma cana flexível com cerca de uma jarda de comprimento e um bocal de latão na ponta.
Era o famoso «narguilé» oriental: aquilo que o Grande Turco fuma nas gravuras. Isto já começava a parecer um luxo. Dei uma baforada e bastou; o fumo desceu-me com uma forte pressão até ao estômago, os pulmões e às partes mais recônditas do meu organismo. Explodi numa tosse estrondosa, como uma erupção do Vesúvio. Nos cinco minutos que se seguiram, fumei por todos os poros, como uma casa em construção a arder lá dentro. Acabou-se o narguilé para mim. O fumo sabia mal, e o sabor das mil línguas de infiéis agarrado ao bocal de latão era ainda pior. Estava a ficar desanimado. De agora em diante, sempre que vir o Grande Turco de pernas cruzadas a fumar narguilé, com um ar de imenso êxtase, num embrulho de tabaco de Connecticut, já sei que ele é um charlatão sem vergonha.”
A Viagem dos Inocentes. Mark Twain, Tinta-da-China, 2010.
Foto: Discoteca Aura, Antalya. 16.05.2011
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