segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

eu, agora

"O acordar começa com o dizer existo e agora. Então, aquele que acordou mantém-se por instantes deitado, de olhar fixo no tecto e em si próprio, até ter reconhecido o eu e, a partir daí, deduzido eu existo, eu existo agora. O aqui vem a seguir e é pelo menos negativamente reconfortante; porque o aqui, esta manhã, está onde esperava encontrar-se; naquilo a que costuma chamar-se em casa.
Mas o agora não significa simplesmente agora. Agora é também uma recordação fria, um dia a mais do que ontem, um ano a mais do que o anterior. Todo o agora traz o rótulo da sua data, tornando obsoletos todos os agora passados, até que, mais cedo ou mais tarde... [...]"

"O indivíduo que estamos a observar lutará até cair. Não porque seja heróico. Não é capaz de imaginar uma alternativa.
Olhando cada vez mais fixamente para o espelho, vê muitos rostos contidos no seu - o rosto da criança, do rapaz, do jovem, do menos jovem -, todos ali estão, preservados como fósseis em camadas sobrepostas e, tal como os fósseis, mortos."

"Tem de cobrir a sua nudez. Tem de vestir-se, pois vai lá para fora, para o mundo dos outros. E esses outros terão de saber identificá-lo. O seu comportamento tem de ser aceitável aos olhos deles. [...]
Nessa altura, já está vestido: transformou-se num ele; [...]"

Um homem singular. Christopher Isherwood (Quetzal, 2010).

http://www.myspace.com/coboltmusic/music/songs/The-Fire-19638227


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