domingo, 2 de janeiro de 2011

American Scientist. António Gregório (Quasi, 2007)

AMERICAN SCIENTIST

Lemos que estava a expandir-se o universo e
imaginámos perplexos a quantidade
de espaço novo a dispor entre todos quando
bem contados nem somos muitos. Ela disse
com certeza calhar-nos-á algum e que era
um luxo quase imoral como tomar banho
de banheira cheia nestes meses de seca
prosseguirmos os dois à beira da fusão.

Numa carta electrónica de resposta à
minha o articulista garantiu que nada
se expande eternamente e no prazo de algumas
gerações estelares há-de o universo
encolher outra vez e que por isso o espaço
que nos aparta é só uma questão de tempo.

*

TRANSUMÂNCIA

Agora vou com os animais que vão
no rasto dos lugares donde a água
vai fugindo e que perseguem a orla
do rareamento do pasto: a fome
é móvel como a comida concorre
andando ao mesmo passo atrás de nós.

Um dia ela abriu o peito e mostrou-me
a aridez que transportava e eu
deslumbrado disse que não tinha ideia
do nosso tempo sedentário a
erosão trabalhando-nos assim
vorazmente.

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