domingo, 26 de setembro de 2010

"Poesia". In "A Metáfora do Coração e outros escritos".

“Filosofia é cada um encontrar-se a si mesmo, cada um chegar por fim a possuir-se; alcançar atravessando o tempo, correndo com o pensamento mais que o tempo, adiantando-se à sua corrida. […] Pois o filósofo quer sair da corrente do tempo, da procissão dos seres.”

“E do seu pensar sai o seu ser”.

“E assim, o filósofo parte soltando-se das suas origens em busca do seu ser; o poeta continua quieto à espera da dádiva, e quanto mais tempo passa menos pode decidir-se a partir, e quanto mais demora a chegar a oferta sonhada mais começa a voltar-se para a origem: desfaz-se, desvive, reintegra-se quanto pode na névoa de onde saíra, na névoa originária […].”

“Não porque ao poeta não lhe importasse a unidade, mas sempre soube que nunca a conseguiria a não ser saindo de si, entregando-se, esquecendo-se. […] Só no amor, na absoluta entrega, sem que fique nada para si, vive o poeta, enfim. A poesia é um abrir-se do ser para dentro e para fora, ao mesmo tempo. É um ouvir no silêncio e um ver na escuridão. […] É a saída de si, um possuir-se por ter-se esquecido; um esquecimento por ter ganho a renúncia total. Um possuir-se por não ter já nada que dar; um sair de si enamorado, uma entrega ao que não se sabe ainda, nem se deixa ver. Um encontrar-se inteiro por se ter dado inteiramente.”

“A poesia é anedótica porque quer tudo ao mesmo tempo: o método filosófico dá-se no tempo sucessivo ou, pelo menos, propõe-no.”

“A palavra que quer fixar o inexprimível porque não se resigna a que cada ser seja somente aquilo que parece.”

Sem comentários:

Enviar um comentário