domingo, 20 de junho de 2010

amor e morte

Para Ivan Klima, poucas coisas se parecem tanto com a morte como o amor realizado. Cada chegada de um dos dois é sempre única, mas também definitiva: não suporta a repetição, não permite recurso nem promete prorrogação. O amor e a morte não têm história própria. Assim, não se pode aprender a amar, tal como não se pode aprender a morrer. E não se pode aprender a arte ilusória – inexistente, embora ardentemente desejada – de evitar as suas garras e ficar fora do seu caminho. Chegado o momento, o amor e a morte atacarão – mas não se tem a mínima ideia de quando isso acontecerá. Quando acontecer, vai apanhá-lo desprevenido. Nas nossas preocupações diárias, o amor e a morte aparecerão ab nihilo – a partir do nada. Evidentemente, todos tendemos a esforçar-nos muito para extrair alguma experiência deste facto; tentamos estabelecer os seus antecedentes, apresentar o princípio infalível de um post hoc como se fosse um propter hoc, construir uma linhagem que “faça sentido” – e na maioria das vezes temos sucesso. Precisamos deste sucesso pelo conforto espiritual que nos traz: faz ressurgir, ainda que de forma circular, a fé na regularidade do mundo e na previsibilidade dos eventos, indispensável para a nossa saúde mental. Também evoca uma ilusão de sabedoria conquistada, de aprendizagem e, sobretudo, de uma sabedoria que se pode aprender.
No caso da morte, a aprendizagem restringe-se, de facto, à experiência de outras pessoas e, portanto, constitui uma ilusão in extremis. A experiência alheia não pode ser verdadeiramente aprendida como tal.

Sem comentários:

Enviar um comentário