Eu sei: há palavras grandiosas
pelas quais se pode morrer.
Essas palavras inflamam
e a calma é cobardia
quando toca a reunir
sob as bandeiras regimentais.
Mas quem quer que conheça as velhas mães
deixadas entregues a si próprias
e os filhos sem pais
não acredita em nada do que dizem.
Eu sei: há grandes atos
e muitos exigem sacrifícios.
Eu sei: há atos heroicos
usados para consagrar
os ganhos de guerras inúteis
em longas tréguas.
Mas quem quer que tenha visto, de longe,
catedrais em ruínas
e cidades esmagadas em chamas
já não acreditará neles.
Eu sei: há grandes homens
com reivindicações de imortalidade.
Inscreveram-se nas épocas com o seu sangue;
e há um número mais do que suficiente deles
nos cemitérios de todos os países
à sombra de ilustres tílias.
Mas quem quer que tenha visto,
sob a espada ensanguentada,
o ferido a contorcer-se em agonia
conhece-as ainda melhor.
Eu sei: sou uma minúscula insignificância,
miserável e talvez desprezível.
Eu sei: estas minhas palavras
são um veneno perigoso
que pode envenenar
a vossa pomposa canção.
E, no entanto, antes morrer
com o vosso cuspo no meu rosto,
antes morrer como um cobarde
do que ter sangue nas minhas mãos.
Escrito por uma jovem desconhecida, à beira da câmara de gás. In Paisagens da Metrópole da Morte (Otto Dov Kulka, Temas e Debates, Abril 2013).
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