segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O Cinema em Palavras (Poemas-Piloto). Rolf Dieter Brinkmann (Fenda, 1995)

Todos os poemas são poemas-piloto

Todos
os poemas
são públicos
*
isto
é
já um
poema
para Rygulla
*
e
tal como
pintamos
de repente um
armário de amarelo

também
aquilo
a que
chamamos
um
armário amarelo

é já
um poema
para Maleen, que o observa
com atenção
*
e quando depois escrevemos um poema assim
isso
é
um poema
assim
e não pertence
a ninguém
*
isto
é outro
poema
para mim próprio.
*
O piloto está publicamente ao dispor de todos e isto
é
outra vez um
poema assim
desta vez para Helmut Pieper. E continuo a dizer
em geral
*
entra

e fecha a
porta
também tu és um piloto
no
FIM.

***
“É, todavia, no cinema que [Rolf Dieter] Brinkmann encontra o último e mais importante objecto do seu trabalho com a estrutura e com o modo de funcionamento da «indústria das consciências». Não tanto devido à trivialidade de códigos destes seus mitos ou à pujança das suas estrelas, como, talvez, à rapidez da sua assimilação pela massa dos consumidores, submetendo a experiência do real à da máquina de sonhos. Além disso, o cinema é também uma técnica. Uma técnica que permitirá a Brinkmann alargar e fazer agir as suas imagens. Se a fotografia ampliada já não pretendia qualquer tipo de clarificação (que, de resto, nunca é clara), mas apenas revelar composições estruturais novas, o cinema, enquanto conjugação de diversos planos (real e ficção, técnica e imaginação), funciona segundo um mecanismo análogo à percepção humana, na medida em que não reproduz a realidade, mas a constitui. Uma poesia que procura deste modo a radicalização das fantasias pessoais, estrutura-se sob a forma de «cinema em palavras».”

Judite Berkemeier e João Barrento, in Posfácio.

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