sábado, 30 de outubro de 2010

"A sabedoria dos animais". In Explicando a Filosofia com Arte (Charles Feitosa, Ediouro, Rio de Janeiro, 2004).

"(...) "Observa um rebanho, que pasta diante de ti. Ele nada sabe sobre o ontem ou o hoje, ele corre daqui para ali, come, descansa, digere, corre novamente, e assim de manhã até à noite, dia após dia, amarrado através de seu prazer e de sua dor à estaca do instante, e por isso mesmo nunca melancólico ou deprimido" (Segunda Consideração Intempestiva [1784]. Segundo Nietzsche, o homem observa o comportamento do animal e fica com inveja, pois também gostaria de não ficar triste. Pergunta então: "por que você só fica aí me olhando e não me fala da sua felicidade? O animal quer responder e dizer: isso vem do facto de que eu sempre esqueço o que queria dizer - mas ele já esquece também essa resposta e se cala. O homem fica admirado de seu siêncio" (ibid).
O olhar oblíquo de Nietzsche sobre o rebanho no pasto faz com que também vejamos tudo de forma insólita e surpreendente. O animal, que é sem passado e sem futuro, parece viver mais intensamente que o homem, oprimido pelo excesso de memória e de "pré-ocupações". Para ser feliz e fazer os outros felizes será preciso recuperar um pouco da sabedoria dos animais ou das crianças: a sabedoria do esquecimento."

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