terça-feira, 10 de agosto de 2010

As palavras transferidas. V - O mito do lugar

Entre o silêncio e o mito, as palavras transferidas:
na dicotomia da palavra, o mito agoniza e sobrevive
na narrativa do que só pode ser na sua negação.
Na essência do mito, o silêncio
resgata da matéria os remos
a declarar todo o luto inaceitável
para que seja luto.
Em ciclo, o silêncio resgata-se e implode
como hiato, de novo na palavra.
As quatro figuras celestes resolvem a deriva:
os lugares são constructo da atenção seletiva.
Então, sob vagas de ira e piedade,
a ilha submerge no tempo,
neste mar de ocultação e esquecimento.
Despedida é a palavra que prova os ventos
e, transferida, enraíza a terra luminosa
sempre em direção à matéria do silêncio:
as tuas mãos sobre os meus olhos
num jogo de crianças, conchas ternas
mostrando-me, vendados, a noite infinita;
desvendados, o lugar submerso
aonde não posso voltar.

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