domingo, 4 de julho de 2010

a linguagem das pedras




a complexidade da comunicação
diga-se o viver
o tempo comum
é trama da linguagem
pela utilização de unidades de medida diferentes e variáveis
desde logo a noção própria de tempo
e as outras que nos declaram únicos
a distância
a profundidade
a intensidade
claro que para ti nada disto interessa
quando mexes numa tela
as medidas que há entre a chegada do teu dedo a uma pedra suspensa
são as mesmas do teu toque na mão embaraçada que a lançou

observas uma pedra
então percebo
que em ti se demarca representação do que se vê

demoras-te a olhá-la e enquanto isso
descubro o amor
porém o meu amor não tem pertença
e o teu pertence ao que a pedra te reflete

percebe-se o amor no amor dos outros
como herança

persigo o olhar das figuras, mas
por mais que possa andar
sei que muito mais me afasto e atolo
em pedra ensopada por bica de lágrimas

no desconforto da substância fronteiriça
agitas um brando desconsolo
e comoves as fissuras do teu sopro:
ao longe
o vento entoa teu grito
enquanto mirrada na cratera, a figura
arrefece o sangue
mesmo que berre
na linguagem desterrada das crateras do seu rosto


Misto s/ tela: "Não tenhas medo porque os medos têm medo de ti - por que sorris?", Mirtilo Gomes (http://www.bailaolopes.com/)

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