quarta-feira, 7 de julho de 2010

Da vingança

"Vou fazer aqui uma pausa para considerar a palavra "revenge", "vingança", que, segundo o Oxford English Dictionary, deriva do latim "revindicare". E "revindicare" deriva de "vindicare", que significa "justificar", ou "resgatar" ou "libertar", ou "emancipar", acção pela qual se libertava um escravo. Por conseguinte, vingarmo-nos de alguém é relibertarmo-nos, porque antes de efectuarmos a vingança não somos livres. O que é que nos mantém na escravidão? A nossa obsessão com o nosso próprio ódio pelo outro: o nosso próprio espírito vingativo. Sentimos que não o podemos sacudir a não ser através de um acto de vingança. O objectivo que precisa de ser estabelecido é um objectivo específico, e o tipo de dívida que não pode ser pago com dinheiro é uma dívida psíquica. É uma ferida na alma.
Os vingadores e aqueles que os vingadores querem matar ou punir são como credores e devedores. Surgem aos pares. São unha com carne. E daqui até à teoria junguiana da Sombra vai apenas um passo.
Em narrativas que envolvem um ódio irracional e obsessivo, especialmente por parte de uma pessoa que ainda não se conformou com a sua própria Sombra. A Sombra é o nosso lado negro, o repositório de tudo o que há em nós de que nos sentimos envergonhados e de que preferíamos não tomar conhecimento, e também das qualidades que declaramos desdenhar, mas que na realidade gostaríamos de possuir. Se não tivéssemos reconhecido essas coisas acerca de nós próprios, provavelmente iríamos projectá-las noutra pessoa qualquer ou noutro grupo, desenvolvendo um ódio irracional por essa pessoa ou por esse grupo."

"O lado sombrio". In Desforra - a dívida e o lado sombrio da riqueza, Margaret Atwood (Bertrand, Março de 2010).

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