II
tudo se resume à terra gasta
os lírios
o berço das águas
o pó dos homens
desci do alto
ilusões de um dia
sem nome
sem data
só a certeza aumenta a fasquia
e me faz querer viver depressa
compreendo a indiferença
um quase medo
como um pêndulo no caule
das flores em fim de estação
e nada mais interessa
quando se inala a tristeza
de um dia de aniversário
rapidamente tornarei aos peixes
e verei nas escamas
o crude de minha vestimenta
encantamento? Talvez um dia
e talvez esse dia perdure
talvez nunca chegue
morro e renasço vezes sem conta
e a dor do repasto
tornou-se um hábito frequente
tiro fotografias aos mortos
devoro-lhes o último foco de energia
evoco um cântico
quase celeste
quase platónico
faço-os vibrar de dentro do húmus
a última valsa antes do retomar do ciclo
também o seguirei
também celebrarei as estações
doando aos juncos um novo banco
de rio
doando às cotovias a minha voz
também elas cantarão os mortos
tudo se resume à terra gasta
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